Equipe Técnica acompanha preparativos da festa de Nossa Senhora da Conceição e São José

Nesta tarde a Equipe Técnica do CONPHAU esteve acompanhando os preparativos da Festa de Nossa Senhora da Conceição e São José, junto aos festeiros da comunidade do Distrito da Baixa. A festa, realizada sempre no final de julho, já se tornou uma tradição local, contando com ampla participação popular, há quase um século. Registrada pelo CONPHAU e chancelada pelo IEPHA como Patrimônio Imaterial de Minas Gerais, ela é um importante elemento da formação identitária do povo uberabense com suas práticas e transmissão de saberes.

As flores são confeccionadas manualmente pelos festeiros e outros colaboradores, e são usadas na decoração da festa.

Regina, moradora da comunidade, trabalhando na confecção das flores que servirão de decoração para a festa

O pequeno altar doméstico evidencia a devoção católica.

Histórico da Festa Nossa Senhora da Conceição e São José

A devoção a Nossa Senhora da Conceição é um traço da cultura religiosa transportada de Portugal para o Brasil, ainda no tempo colonial. De acordo com o contexto dos séculos XVI e XVII, todo o Brasil, desde os primórdios da colonização, sempre pertenceu de direito a Nossa Senhora da Conceição. O Alvará Régio das Cortes Portuguesas de 25 de março de 1646, promulgado por Dom João IV, proclamou Nossa Senhora da Conceição como Padroeira e Rainha de Portugal e de todos os domínios portugueses, conferindo a ela as honras de soberana e oferecendo-lhe a coroa real. A partir de então, nas representações e retratos, os monarcas da Dinastia de Bragança não mais ostentaram a coroa, que aparece sobre uma almofada, e a cerimônia da coroação dos reis de Portugal passou a denominar-se Aclamação. Como o Brasil era colônia de Portugal, foi também posto sob a soberania e proteção de Nossa Senhora da Conceição; por isso muitas cidades brasileiras nasceram da invocação de Nossa Senhora da Conceição. 

A preparação para a festa se faz de forma solene: uma novena de sábados é programada em nove fazendas diferentes. No dia de sua novena, o fazendeiro anfitrião convida os vizinhos mais próximos, promovendo leilão de prendas e jantar para os visitantes a fim de arrecadar fundos para a realização das festividades.

Depois de nove sábados, o povo já pode contar com o necessário para o “grande” dia. Aí então começam os trabalhos dos voluntários de devotos que ajudam nos preparativos finais. Em um dia da semana vêm homens para carnear as vacas doadas, que um grupo de mulheres tempera e cozinham, deixando tudo pronto. No dia seguinte é a vez da repetição dos mesmos procedimentos com os porcos. No terceiro dia são feitas outras comidas: mandioca, doces de frutas diversas e de leite, legumes. Tudo o que puder ficar semi pronto, tem que ser feito, pois o sábado será muito atarefado.

No sábado, véspera da festa, já é festa. Um grande número de pessoas já se encontra no povoado da Baixa. O povo aparece cedo para a limpeza da praça e das ruas, que após a varrição, recebem todo tipo de enfeites coloridos, de papéis e flores. Até as 14 horas tudo está pronto. Enquanto muitos cuidam da preparação do ambiente outros cuidam da preparação do almoço de todos. São dez grandes fogões espalhados pelo grande galpão. Ali mulheres e homens preparam refeição para centenas de festeiros. A partir de certo momento começam a servir. As pessoas que vão se desocupando ou estiverem com mais fome vão se servindo. Aos poucos todos terão comido à vontade, em ambiente de plena alegria e amizade. Tudo é festa.
A capelinha primitiva do povoado foi reformada e reconstruída muitas vezes ao longo do tempo. Ela tem até patrimônio de terras doadas por fazendeiros do entorno. Consta que são cerca de 24 hectares. A construção atual é da década de 1940, com algumas reformas que se fizeram necessárias, ao longo do tempo: troca de madeiramento, de telhas, de mobília, recuperação de pinturas. Tudo é o povo que faz. É ele que fornece o material de construção e a mão de obra. A Arquidiocese de Uberaba sempre fornece o padre para atendimento da população. O Padre Olímpio Olivieri, por exemplo, atendeu àquela comunidade durante 33 anos seguidos. Atualmente esta função está sob a responsabilidade do Padre Vanildo Massaro de Brito.

Capela da Baixa, já decorada para receber os fiéis para a missa de sábado.

No sábado à tarde, o padre celebra missa, seguida de grande leilão e, à tardezinha, são acesas fogueiras, com o levantamento de mastro contendo bandeiras dos santos padroeiros (à semelhança das festas juninas), depois é servida uma jantarada para, a seguir começar os shows, bailes, jogos, até altas horas da madruga.
No domingo, dia mesmo da festa, tem missa às 10 horas, precedida de confissões e seguida da celebração de batizados, casamentos. O que houver de possibilidade de sacramentalização e de catequização, onde o padre é auxiliado por diáconos, seminaristas e leigos preparados para esses serviços religiosos. Em seguida vem o almoço para todos, nos mesmos moldes de sábado.
A festa se encerra com uma grande procissão, à 16 horas, em que o povo segue andores ricamente adornados por devotos. Nesta, além dos andores de Nossa Senhora da Conceição e de São José, os santos titulares da capela, também têm os andores de São Sebastião e Santo Antônio, os padroeiros da cidade de Uberaba e um outro andor de Nossa Senhora Aparecida, a padroeira do Brasil. Toda a multidão acompanha fervorosamente seus santos, cantando hinos sacros e recitando orações. Após percorrer as principais ruas do povoado, os andores chegam à capela onde o padre profere breve palestra, abençoa os devotos e dá por encerrada a programação, escolhendo o festeiro responsável para o próximo ano, o que representa uma grande honraria para o eleito, e conclamando todos para que voltem no ano seguinte.